O controle da ansiedade na cadeira do dentista
A ansiedade constitui-se em uma das emoções mais comuns apresentadas nos tempos atuais. A rotina diária, envolvendo uma competição descontrolada em todos os setores, levou o ser humano a níveis de estresse exacerbados. Se a maioria dos indivíduos já vive um dia a dia atribulado com as emoções à flor da pele, imagina-se então o nível de ansiedade de um paciente nos momentos que antecedem um ato cirúrgico.
A anamnese certamente identificará os diversos níveis de ansiedade e medo que os pacientes apresentam, tanto com relação à expectativa do resultado do tratamento como em relação direta ao ato cirúrgico propriamente dito. A maioria dos nossos pacientes já chega avisando e falando que tem muito medo de dentista, que odeia o barulhinho da broca etc. Entretanto, alguns tentam esconder essa fobia e nos levam a tratá-los como pacientes comuns, o que acaba dificultando imensamente as nossas intervenções.
Alterações fisiológicas como dilatação pupilar, palpitação, palidez, sudorese nas palmas das mãos, tremores, taquipneia, taquicardia, elevação da pressão arterial e da frequência cardíaca, postura defensiva, excesso ou falta de comunicação, sensação de formigamento das extremidades, entre outras, são sinais normalmente presentes nos pacientes que apresentam medo e ansiedade diante de procedimentos odontológicos. O procedimento básico no controle da ansiedade frente ao tratamento odontológico é a tranquilização verbal, através dos contatos feitos tanto na consulta inicial como na consulta de retorno. Quando não é possível um controle adequado, drogas que apresentam atividades ansiolíticas, sedativo-hipnóticas, anticonvulsivante e miorrelaxante são clinicamente úteis.
Dessa forma, os ansiolíticos e sedativos podem ser usados como medicação pré-operatória, o que certamente facilita as manobras transoperatórias. Dentre os vários agentes que têm sido empregados, os benzodiazepínicos são os mais prescritos no mundo, por apresentarem grande margem de segurança e poucos efeitos colaterais. Suas propriedades sedativas, amnésicas e relaxantes musculares centrais contribuem para o efeito tranquilizador. Entre os medicamentos do grupo dos benzodiazepínicos, pode-se destacar o diazepam, lorazepam, bromazepam, cloxazolam e midazolam, sendo este último também indutor de sono fisiológico.
Infelizmente, muitos de nós dentistas consideramos a tranquilização ou sedação dos pacientes uma “frescurinha” desnecessária. Por termos sido acostumados a tratar os pacientes apenas com anestesia local, não criamos o hábito de sedar os pacientes. Além disso, também nos deixamos levar pela vontade dos pacientes que costumam argumentar: “Já fiz vários procedimentos somente com anestesia local e bem acordado, eu aguento”. Acabamos indicando o uso de tranquilizantes e sedativos somente para aquele grupo de pacientes considerado especial ou de risco.
Se buscarmos no passado, podemos fazer algumas comparações interessantes. A endoscopia pode ser uma delas. Há muitos anos (pelo menos uns 15 anos) as endoscopias eram feitas com o paciente acordado. Apenas um líquido ou gel anestésico era aplicado e todo aquele tubo era introduzido no estômago do paciente totalmente acordado, provocando reações adversas bastante intensas, além do trauma psicológico. Hoje em dia é inconcebível se realizar esse tipo de exame sem uma sedação endovenosa.
Os anestésicos locais foram uma grande descoberta para a Odontologia. Mesmo assim, em pleno século 21, alguns pacientes ainda insistem em realizar pequenos procedimentos sem anestesia, refutando a sensação de dormência, que perdura por algumas horas após a intervenção. E o que é pior: muitos dentistas se rendem a esse pedido e executam os procedimentos, causando dor aos clientes. O mesmo vem ocorrendo com a sedação ou tranquilização. Muitos pacientes se recusam e nós acabamos tratando assim mesmo, elevando o nível de estresse e o risco de insucessos.
Quem já colocou na sua rotina de atendimento o uso de ansiolíticos, relaxantes musculares, tranquilizantes e indutores do sono fisiológico sabe das facilidades que a ação desses medicamentos provoca nos nossos atendimentos. Contudo, os maiores beneficiados são mesmo os pacientes, que ficam livres daquele antigo filme de terror que era sentar na cadeira de um dentista.
“Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem. Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne”. Genesis 2, 21-24.